Avatares Digitais, Vendas Milionárias e o Colapso da Autenticidade
Por José Antônio Lucindo da Silva – 21 de junho de 2025
Enquanto muitos ainda tentam se adaptar aos algoritmos que decidem o alcance de suas publicações, a inteligência artificial já começou a redefinir o que significa “influenciar”. Em apenas 6 horas, um avatar digital alimentado por inteligência artificial gerou mais de US$ 7,6 milhões em vendas na China, superando com folga os resultados anteriores de seu “modelo humano”, o influenciador Luo Yonghao.
A façanha foi realizada pela gigante chinesa Baidu, em uma transmissão via Youxuan, utilizando dois avatares: o próprio Luo e seu coapresentador virtual “Xiao Mu”. Treinados com anos de vídeos, trejeitos e piadas originais, os avatares realizaram vendas em ritmo industrial — sem pausas, sem erros, sem cansaço.
No mundo real, a notícia choca. No universo do capital, encanta.
O que está em jogo
Essa nova engrenagem de vendas evidencia uma tendência já observada em diversos setores: a substituição progressiva do humano pela simulação de sua presença. E o mais inquietante: com maior eficácia e menor custo. Estamos entrando numa era onde o carisma pode ser programado, e o “olhar humano” não passa de uma linha de código bem treinada.
Enquanto isso, o Brasil dá seus próprios passos. A Lu do Magalu, pioneira nesse campo, já ultrapassa os 30 milhões de seguidores e participa de campanhas que vão da televisão ao TikTok. No Brás, coração do comércio paulistano, plataformas como Shopee já oferecem estúdios próprios para live commerce, antecipando um cenário onde o “influenciador” não precisa mais sequer existir de fato.
O perigo da substituição simbólica
A questão não é apenas econômica. Estamos diante de um abalo cultural e psicológico: se tudo pode ser substituído por avatares, o que resta ao sujeito real? Se a autenticidade pode ser superada pela eficiência, o que acontece com a experiência humana?
Mesmo entre consumidores brasileiros, a expectativa de “proximidade” com marcas e influenciadores ainda é valorizada. Mas até quando?
A regulamentação caminha a passos lentos. O Código de Defesa do Consumidor exige clareza sobre publicidade, mas a IA ainda opera no limbo da legislação brasileira, com discussões sobre direitos de imagem, transparência e responsabilidade ética ainda incipientes.
Estamos prontos?
A resposta é: não. Não do ponto de vista jurídico. Não do ponto de vista emocional. E definitivamente não do ponto de vista da identidade. Mas como já é de praxe no capitalismo algorítmico, a questão não é se estamos prontos — é que o futuro já começou, com ou sem nosso consentimento.
E se você achou que isso era uma distopia... bem, o mercado agradece sua ingenuidade.
📎 Leia a matéria que inspirou esse texto completo em:
https://exame.com/inteligencia-artificial/avatar-de-inteligencia-artificial-vende-us-7-milhoes-em-6-horas-e-supera-influenciadores-entenda/
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