Alcoolismo e Adicção: Entre a Negação e a Representação
Resumo:
O presente artigo discute o alcoolismo sob a perspectiva da adicção, compreendida como estrutura de dependência que ultrapassa o objeto específico, como álcool ou drogas, e se estende a elementos modernos como o celular. Com base em autores como Freud, Lacan, Colette Soler e Byung-Chul Han, defende-se que a adicção não admite moderação e exige a retirada do objeto para que o sujeito possa simbolizar sua falta e iniciar um processo de elaboração. Evita-se, neste texto, qualquer idealização política ou moralizante, para manter o foco na estrutura psíquica do sujeito adicto.
Palavras-chave:
Alcoolismo, Adicção, Psicanálise, Dependência, Freud, Lacan, Subjetividade
Introdução
O alcoolismo é uma das manifestações mais silenciosas e complexas da dependência humana. Embora frequentemente vinculado a contextos de gênero ou questões sociais, este artigo propõe uma abordagem estrutural, compreendendo o alcoolismo como uma forma de adicção cuja lógica psíquica é a da submissão compulsiva a um objeto. A partir dessa leitura, busca-se desmistificar a ideia de que a moderação seria possível ao adicto e propõe-se uma reflexão clínica e ética sobre a necessidade de ruptura com o objeto escravizante.
Desenvolvimento
Com base em Freud, a compulsão é entendida como tentativa neurótica de evitar o desprazer ligado à falta. Lacan complementa essa estrutura ao destacar que o sujeito é constituído pela falta e que o desejo se sustenta na relação com o Outro. A adicção, então, aparece como um modo de colapsar essa relação, ao tentar tamponar a falta com um objeto repetido à exaustão.
Colette Soler aponta que o sintoma é a fala onde o sujeito silencia, e a adicção é esse silenciamento radical. A presença do objeto (a droga, a bebida, o celular) mantém o sujeito em circuito fechado com sua falta, impedindo a simbolização.
Byung-Chul Han contribui com a ideia de que vivemos em uma sociedade marcada pela positividade e pela performance, onde o sujeito, para suportar a exigência constante de sucesso, recorre a formas de compensação e anestesia — o que inclui substâncias, redes sociais e produtividade. A compulsão moderna está a serviço de um gozo contínuo que sufoca o espaço da subjetividade.
Conclusão
O alcoolismo e outras formas de adicção exigem escuta e ruptura. A proposta aqui é afastar a idealização de moderação e politização da dependência e compreendê-la como estrutura de sofrimento ligada à tentativa de lidar com a falta. Retirar o objeto que escraviza é o primeiro passo para a escuta subjetiva. A adicção é uma forma de existir onde a liberdade está suspensa, e o trabalho clínico é o de reintroduzir o sujeito na sua própria linguagem, para além da repetição do gozo.
Referências
FREUD, S. O mal-estar na civilização. Obras completas. RJ: Imago.
LACAN, J. O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. RJ: Zahar.
SOLER, C. O inconsciente a céu aberto. SP: Escuta.
HAN, B.-C. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes.
WILSON, B.; SMITH, B. Alcoólicos Anônimos. AA World Services.
Por : José Antônio Lucindo da Silva CRP:06/172551 joseantoniolcnd@gmail.com
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