O Espetáculo da Barbárie Cotidiana
Em meio à nauseante sinfonia do caos urbano, deparo-me com a mais recente obra-prima da decadência humana: a violência transformada em espetáculo, servida em doses diárias nas telas de nossos dispositivos. O homem, esse ser patético e pretensioso, eleva a barbárie à categoria de entretenimento, e o sofrimento alheio torna-se moeda de troca na busca por migalhas de atenção.
As cenas de horror, antes confinadas aos becos escuros e aos noticiários sensacionalistas, invadem agora a tela do celular, transmitidas ao vivo por um coro de voyeurs ávidos por emoções fortes. A violência, despida de qualquer significado ou transcendência, torna-se um espetáculo vazio e gratuito, um ritual macabro celebrado em nome da vaidade e do tédio.
E eu, espectador involuntário dessa farsa grotesca, questiono-me sobre o destino dessa humanidade que se alimenta da desgraça alheia, que encontra prazer na contemplação da dor. Acaso não somos todos cúmplices dessa decadência, ao alimentarmos com nossa atenção essa indústria da barbárie?
Em vão buscamos respostas nos discursos vazios dos moralistas e nos sermões hipócritas dos líderes religiosos. O homem, esse animal indireto e contraditório, permanece cego à sua própria miséria, perdido em um labirinto de ilusões e desejos fúteis.
Resta-nos apenas o cinismo e a ironia como escudos contra a barbárie, como antídotos para a náusea existencial. Rir da tragédia humana, zombar da pretensão e da vaidade, talvez seja a única forma de manter a sanidade em um mundo que caminha a passos largos rumo ao abismo.
Que o espetáculo da violência nos sirva ao menos como um espelho, refletindo a face grotesca e patética da nossa própria condição. E que, diante desse espetáculo, possamos encontrar a lucidez e a coragem para rir de nós mesmos, para negar a ilusão e abraçar o vazio.
Referências
CIORAN, E. M. Breviário da decomposição. Tradução de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 1989.
#maispertodaignorancia
@joseantoniolucindodasilva
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