A Ironia da Bolha: Reflexões sobre a Discursividade Moderna
Ah, a era digital! Onde todos têm voz, mas poucos têm algo a dizer. Onde os algoritmos, essas criações humanas, nos envolvem em bolhas confortáveis, alimentando nossas certezas e evitando qualquer desconforto cognitivo. Afinal, quem quer ser confrontado com a realidade quando pode viver em um feed personalizado que só reforça suas próprias crenças?
Vivemos tempos em que o discurso se tornou uma mercadoria, moldada para gerar engajamento e curtidas. As redes sociais, com seus algoritmos astutos, nos entregam exatamente o que queremos ver, criando uma ilusão de pluralidade enquanto nos aprisionam em câmaras de eco. Como bem apontado por pesquisadores, esse fenômeno, conhecido como "efeito bolha", restringe nosso acesso a conteúdos diversos, questionando seu potencial antidemocrático .
Mas não se preocupe, caro leitor, este texto não busca seu engajamento. Não estou aqui para ganhar curtidas ou seguidores. Na verdade, se você chegou até aqui esperando alguma revelação inédita, lamento desapontá-lo. Tudo o que digo já foi dito antes. Estou apenas repetindo o óbvio, algo que, se você parar para refletir, já está presente na sua própria realidade material.
Afinal, a análise crítica do discurso nos mostra que o discurso é uma prática social que se manifesta materialmente, sustentando e alimentando sentidos que possibilitam o movimento dos sujeitos em inter-relação . Em outras palavras, nossas palavras e ações estão intrinsecamente ligadas às estruturas sociais e históricas que nos cercam. E, no entanto, aqui estamos, confortavelmente entorpecidos em nossas bolhas digitais, evitando qualquer tensão ou confronto que possa desafiar nossas perspectivas.
A ironia é palpável. Criamos tecnologias que prometiam nos conectar, ampliar nossos horizontes, democratizar a informação. Em vez disso, usamos essas ferramentas para nos isolarmos ainda mais, reforçando preconceitos e evitando o desconforto da dúvida. Como observou Moisés de Lemos Martins, a sociedade atual testemunha uma transição da racionalidade argumentativa para uma racionalidade emocional, onde a imagem e a aparência prevalecem sobre o conteúdo e a substância .
E assim seguimos, navegando em feeds cuidadosamente curados, onde o algoritmo nos protege de qualquer coisa que possa desafiar nossa visão de mundo. Afinal, por que buscar a verdade quando a mentira confortável está a apenas um clique de distância?
Observação: Este texto não foi escrito para gerar engajamento ou curtidas. Se você, leitor, se questionar, perceberá que nada aqui é novo. Estou apenas repetindo o que já está evidente em sua própria materialidade.
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