As transformações tecnológicas e o uso estratégico das plataformas digitais têm evidenciado uma perigosa aliança entre política e tecnologia, especialmente no contexto contemporâneo. A compra do X (antigo Twitter) por Elon Musk e sua aproximação com Donald Trump levantam reflexões importantes sobre como a tecnologia pode ser instrumentalizada para reforçar dinâmicas de exclusão e vigilância, ecoando práticas históricas já registradas em eventos sombrios como o Holocausto.
Historicamente, o livro IBM e o Holocausto (Edwin Black) documenta como a tecnologia foi utilizada pela Alemanha nazista para rastrear populações judaicas com precisão assustadora. A IBM, através de sua máquina Hollerith, forneceu aos nazistas a capacidade de organizar informações censitárias que resultaram no extermínio sistemático de gerações inteiras. Embora a tecnologia da época fosse limitada a cartões perfurados, sua aplicação na organização de dados mostrou como a neutralidade tecnológica pode ser corrompida por interesses políticos.
Hoje, a sofisticação dos algoritmos e a onipresença das plataformas digitais ampliam exponencialmente essas possibilidades. Dados coletados em redes sociais, como o X, oferecem um mapa detalhado do comportamento, localização e interesses de indivíduos. Sob o pretexto de segurança ou campanhas políticas, esses dados podem ser utilizados para identificar e marginalizar grupos específicos, como imigrantes latinos nos Estados Unidos, que frequentemente são alvos de retórica polarizadora.
O perigo dessa aliança entre Musk e Trump não é apenas especulativo. A Cambridge Analytica demonstrou em 2016 como a manipulação de dados pode influenciar eleições, polarizar debates e reforçar dinâmicas de "nós contra eles". A continuidade dessa lógica, agora amplificada pelas capacidades tecnológicas do X, sugere um futuro onde o rastreamento e a exclusão de grupos específicos podem ser realizados com uma precisão quase distópica.
Essa dinâmica também reflete como a narrativa de segurança é utilizada para justificar práticas de vigilância em massa. Sob a fachada de proteger a sociedade, a privacidade individual é comprometida, e o poder de controle é centralizado em poucas mãos. Esse contexto evidencia a necessidade urgente de regulamentação que proteja direitos fundamentais e impeça a repetição de práticas de exclusão em escala global.
Assim, a união entre política e tecnologia, quando não regulada, representa uma ameaça não apenas à privacidade, mas à própria democracia. O passado nos mostrou o que é possível quando tecnologias são utilizadas para segmentar e exterminar populações inteiras. No presente, a sofisticação tecnológica eleva esses riscos a níveis inimagináveis, tornando essencial um debate crítico e ético sobre o uso responsável das ferramentas digitais.
Referências:
Black, Edwin. IBM e o Holocausto: A aliança estratégica entre a Alemanha nazista e a maior corporação americana. Editora Imago, 2001.
Zuboff, Shoshana. A Era do Capitalismo de Vigilância. Intrínseca, 2020.
Han, Byung-Chul. No Enxame: Perspectivas do Digital. Editora Vozes, 2018.
BBC News Brasil: "O experimento social de Elon Musk com a humanidade". Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c791jz72enpo.
#maispertodaignorancia
Comentários
Enviar um comentário