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O Poder do Questionamento na Era da Inteligência Artificial

Aqui estou eu, questionando a dúvida. Sim, a dúvida. Esse fenômeno fabuloso que nos diferencia das máquinas. Dizem que ela nos torna humanos, mas, sinceramente, olhando para o estado das coisas, começo a achar que duvidar é só um jeito sofisticado de disfarçar nossa ignorância. Afinal, enquanto eu me debato com perguntas existenciais, a IA já me conhece melhor do que meu terapeuta.

A dúvida não nos libertou, como prometeu. Pelo contrário, nos aprisionou em loops intermináveis de reflexão, enquanto algoritmos frios, mas eficientes, tomam decisões que moldam o mundo. E o que eu faço? Curto, comento, talvez compartilhe. Uma verdadeira revolução discursiva, não é mesmo?

Vivemos tempos onde tragédias e espetáculos competem pela nossa atenção. Se é o show da Madonna ou as enchentes no Rio Grande do Sul, não importa: o algoritmo já decidiu o que você verá. Isso é liberdade? Claro que é, só que ao contrário. A pandemia nos deu uma chance de aprender algo, mas preferimos o conforto do “novo normal”. Um normal onde o outro só existe como reflexo do nosso ego virtual.

A inteligência artificial é uma extensão disso. Ela não é o monstro de Frankenstein; é um espelho polido, refletindo nossa obsessão com eficiência e conveniência. E aqui estou, filosofando sobre um “eu” que talvez nem exista, segundo Freud, Lacan ou Byung-Chul Han. A IA, por sua vez, calcula, coleta e segue em frente, enquanto eu ainda me pergunto se a dúvida é uma bênção ou uma maldição.

Mas vamos encarar os fatos: não são os circuitos ou os algoritmos que erram, somos nós. Nós criamos essa tecnologia. Nós moldamos esse sistema que prioriza likes sobre vidas, conforto sobre consciência. Como Demócrito já dizia, “o pensamento é material”. Então, o problema não é a IA; é a nossa inércia.

Se a dúvida é o que nos faz humanos, talvez seja hora de transformá-la em ação. Antes que o próximo grande desastre — ou show — nos distraia novamente.

Referências:

1. Byung-Chul Han – Sociedade da Transparência e Psicopolítica.


2. Lacan – O Seminário, Livro 2.


3. Freud – O Mal-Estar na Civilização.


4. Emílio Seoham – Reflexões sobre a dúvida.


5. Demócrito – O pensamento é material.

#maispertodaignorancia
@joseantoniolucindodasilva

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