1. Introdução
Vivemos em tempos curiosos. O eu deixou de ser apenas uma construção psicológica para se tornar um espetáculo em 4K, embalado por curtidas e emojis. Mas não se engane: esse espetáculo é mais comédia que drama. Se você acredita no que vê nas redes sociais, parabéns, você foi promovido a protagonista de um reality show que não passa na TV, mas dá lucro ao mercado. E se você acha que está no controle, sinto informar, mas o capitalismo de vigilância já roteirizou o final.
2. Transparência: A Mentira mais Bem Vestida
Byung-Chul Han não nos deixa esquecer: a tal transparência, essa rainha do baile digital, é uma fraude. O que brilha no palco das redes é uma mentira que se acredita verdade, porque é validada por um sistema de curtidas. Nesse teatro, o eu discursivo se torna um personagem que performa incessantemente para um público que mal sabe onde está sentado. Quem precisa de desejo quando o prazer imediato já resolve o dia?
3. Mercado e o Descarte do Discurso Identitário
As grandes corporações já decidiram: discursos identitários podem ser recicláveis, mas só quando geram lucro. Nissan, Ford e companhia não têm tempo para histórias que não convertem em resultados. Aqui, Marx parece rir do além: a base material do lucro decide o que vive e o que morre. Enquanto isso, o eu mediático tenta se sustentar como um influencer sem seguidores. Spoiler: não vai dar certo.
4. Dependência Tecnológica: Um Novo Tipo de Abstinência
Lembra quando o problema era "intoxicação tecnológica"? Que tempos simples! Hoje, o vício é tão profundo que a retirada do digital parece apocalipse. Sair das redes? Só se for para sofrer uma crise de abstinência digna de manual de psiquiatria. O eu mediático grita: "Eu posto, logo existo". Mas quem é esse eu que vive entre filtros e hashtags? Boa sorte tentando descobrir.
5. Caminho sem Caminhante
O discurso digital constrói um eu que não caminha. Ele desliza, rola no feed, mas nunca toca o chão. Byung-Chul Han nos lembra que somos humus, mas o eu digital tenta esquecer que tem um corpo, um peso, uma finitude. Resultado? Um eu que não existiu no ontem, não cabe no agora e, sinceramente, não tem futuro. Quem precisa de chão quando se tem um feed infinito?
6. Conclusão
O eu mediático é um milagre da engenharia discursiva: flutua entre mentiras acreditadas e verdades ignoradas, mas nunca aterrissa na materialidade. Transformar as redes em ferramentas de comunicação genuína? Boa sorte tentando convencer o mercado a perder dinheiro. Até lá, seguimos nessa montanha-russa de engajamento vazio, esperando que, um dia, o eu se lembre de que o real tem peso. Afinal, como você mesmo disse, "o dinheiro tem peso". E, na lógica do mercado, o resto é espuma.
Referências Bibliográficas
BYUNG-CHUL HAN. Não-Coisa: Coisas Transparentes. São Paulo: Âyiné, 2021.
BYUNG-CHUL HAN. Sociedade do Cansaço. São Paulo: Vozes, 2017
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BYUNG-CHUL HAN. Sociedade da Transparência. São Paulo: Vozes, 2017.
MARX, Karl. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, 2013.
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