É impressionante. Abri meu Facebook hoje, e lá estava: uma mensagem dizendo que diminui o número de publicações. "Seus seguidores esperam por mais publicações" – como se fosse uma cobrança gentil, mas que carrega a força de um empurrão. E eu, meio atônito, comecei a pensar. Foi inevitável lembrar de um artigo chamado Inteligência Global, escrito por um professor da Unicamp, lá pelos anos de 2004, 2003, talvez 2002.
Nesse artigo, ele falava de algo que parecia distante, quase ficção científica. Um dia, dizia ele, a inteligência global – que hoje reconhecemos como algoritmos, inteligência artificial, redes sociais – pediria à sua subjetividade um novo tipo de submissão. Não seria mais apenas consumir. Não, ela exigiria que você se tornasse parte do maquinário, oferecendo dados e trabalhado ativamente para o sistema.
E eis que percebo que essa mensagem, esse convite sutil para publicar mais, não é nada menos do que isso: uma operação trabalhista. Funcional. E nem sequer percebemos. "Dê-nos seus pensamentos, suas fotos, seus desabafos. Alimente o algoritmo." Enquanto eu posto, enquanto meus seguidores interagem, enquanto os seguidores dos meus seguidores também interagem, o algoritmo se expande. Ele vasculha, conecta, organiza. Um sistema tão faminto que engole até mesmo o silêncio e o transforma em uma cobrança.
É irônico. Tão irônico quanto desesperador. Porque, no fundo, não há liberdade nisso. Cada postagem, cada curtida, cada ausência de postagem, cada silêncio... tudo vira dado. Tudo vira função.
E, ao final, percebo que, mesmo refletindo sobre isso, estou discursando. Alimentando o mesmo sistema que critico. É como se a gaiola dourada estivesse mais presente do que nunca. A ignorância é um desespero, mas o desespero da ignorância talvez seja ainda maior.
#maispertodaignorancia
@joseantoniolucindodasilva
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