O que tem me assustado ultimamente são as métricas relacionadas aos sentimentos de convívio interpessoal ou intersubjetivo. Refiro-me à forma como se entende a relação entre duas pessoas, independentemente de sexo, gênero ou classe social.
Quero pontuar aqui apenas a questão da relação em si, pois se disseminou a ideia de que existe uma fórmula — baseada em "10 maneiras", "6 maneiras", "5 maneiras", "20 maneiras", até "mil maneiras" — de fazer as coisas funcionarem e darem certo.
Essas fórmulas desconsideram todas as variáveis possíveis e impossíveis de serem analisadas em uma relação entre duas pessoas.
Relações são experiências únicas, que envolvem existir e não existir ao mesmo tempo. Cada indivíduo suporta seu vazio da melhor forma possível, vendo no outro apenas um companheiro ou companheira que possa estar ao lado para tentar aplacar o vazio existencial em que nos encontramos como condição humana. Não existe fórmula. Não existe uma correção que garanta uma felicidade eterna e inabalável.
Freud já deixou isso claro ao apontar que uma das maiores tensões na vida é a nossa relação com o outro.
Quem é o outro na nossa história? O que ele representa, se não bilhões de possibilidades de acontecimentos que geram essa tensão? É importante lembrar que a tensão, longe de ser algo negativo, é essencial. Ela é boa porque cria o desejo, que, por sua vez, não está ligado à esperança, mas à transformação. O desejo nasce da tensão, não da conformidade.
A meu ver, todas essas classificações identitárias e fórmulas que prometem resolver as dinâmicas humanas nada mais são do que demandas. E quando existe demanda, não há desejo. O desejo é livre, enquanto a demanda é uma imposição. Talvez o que nos reste seja abandonar as "mil maneiras" de viver e, finalmente, aceitar que a vida relacional é feita de incertezas e construções contínuas, e que isso é o que a torna tão singular.
José Antônio Lucindo da Silva CRP:06/172551 joseantoniolcnd@gmail.com
#maispertodaignorancia
@joseantoniolucindodasilva
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