A Discursividade Perdida na Era do Eu Fragmentado: Uma Geração de Ansiosos Digitais e a Pseudo-Solução do “Desplugue”
“Nada como a boa e velha proibição para resolver todos os problemas modernos; afinal, se não enxergarmos a realidade através da tela do celular, ela magicamente desaparece, não é mesmo? No fundo, acreditamos que desconectar vai salvar uma geração que já nasce digital. Proibir celulares nas escolas é o curativo sobre uma fratura exposta: oculta a ferida, mas o osso continua quebrado” - #maispertodaignorancia
Vivemos em tempos interessantes, onde a discursividade tenta fazer o impossível: preencher vazios com curtidas e mascarar o vazio existencial com filtros. Entre o concreto e o virtual, o "eu" se perde em selfies e frases motivacionais, enquanto o sentido real da vida—aquele vivido, sofrido e experimentado—se dilui em uma tela de pixels.
O celular, essa pequena “janela para o mundo”, entrou em cena como um salvador digital, e agora é tratado como um inimigo da educação. A ironia, porém, é que, antes mesmo desse vilão entrar em nossas salas de aula, já tínhamos um cenário de desrespeito e agressão. Parece que o celular chegou não para criar o problema, mas para filmar a realidade que já estava ali. Será que proibir os celulares vai realmente resolver o buraco onde nos enfiamos? Acreditar nisso é quase como imaginar que bloquear as câmeras vá fazer desaparecer os conflitos.
E há quem acredite que a simples proibição tecnológica é o caminho para resolver essa questão complexa. Retirar os celulares das mãos dos alunos poderia parecer uma medida sensata... se ainda houvesse algo sólido para substituir a atenção imediata que a tecnologia oferece. Mas vamos ser honestos: uma geração acostumada com o prazer imediato e com o "eu" virtual dificilmente encontra sentido em algo fora dessa bolha digital. A tentativa de "resgatar" esse contato sem oferecer algo com a mesma intensidade é como pedir a alguém para trocar um smartphone por um livro didático e esperar entusiasmo.
No final das contas, tanto a presença quanto a ausência da tecnologia trazem desafios. Remover o celular das escolas? Claro, é um ato simbólico. Mas talvez seja a forma mais eficiente de camuflar nossa incapacidade de lidar com o “eu” fragmentado e ansioso que a própria sociedade ajudou a construir. Porque, no fundo, não se trata do celular. Trata-se de um espelho quebrado que o digital apenas amplificou.
#maispertodaignorancia
@joseantoniolucindodasilva
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