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Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia

Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia https://www.reuters.com/article/idUSL1N3S00TY Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia Ironia ; Você confiaria seu futuro a cientistas e a juros? A ciência emergindo como o último alento de um país exausto não alivia: ela agrava. Porque hoje ela não cura—ela dispara uma dívida. E com ela, a angústia de saber que nada se paga, apenas se enrola. I. Entre promessas técnicas e o peso da dívida Há pouco, o discurso heroico da tecnociência nacional chegou ao clímax retórico: “vamos ser autossuficientes, romper com a dependência intelectual global, labutar por satélites nacionais”. Porém, é óbvio que a retórica ignora a necessidade básica — escutar o sujeito que sofre. Enquanto isso, o Tesouro Nacional divulgou que a dívida pública federal subiu 1,44% em abril de 2025, encerrando o mês em, R$ 7,617 trilhões. Em apenas um mês, foram R $ 70 bilhões de juros incorporados ao estoque. Esse número não é abstr...

A inteligência que desliga o humano

A inteligência que desliga o humano 🔗 Fonte original: Fast Company Brasil – Nicolelis critica hype da IA #maispertodaignorancia Você confiaria sua angústia a um algoritmo? Ou melhor: quem ganha com a ideia de que o sofrimento pode ser deletado com uma linha de código? O entusiasmo com a inteligência artificial, tão frenético quanto dogmático, revela menos um avanço da razão e mais um pânico da finitude. O que Miguel Nicolelis denuncia não é a IA em si, mas o projeto psíquico por trás dela: apagar a fragilidade, higienizar o erro, automatizar a dúvida. 1. Um fetiche chamado algoritmo Nicolelis, neurologista e herege honorário do tecnocapitalismo, rompe com o otimismo pasteurizado das startups. Enquanto CEOs prometem cérebros em nuvem, ele insiste na intransferível densidade do corpo, na inteligência encarnada, no pensamento como sintoma — e não como sistema. Em tempos de adoração algorítmica, esse gesto é revolucionário: ele lembra que só pensa quem sente. A cultura do Vale...

Desligar a criança para poupar o adulto

Desligar a criança para poupar o adulto Fonte original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1wv79vzm5no #maispertodaignorancia “O que revela mais sobre nós: o tempo de tela das crianças ou o tempo que não temos para elas?” Aparentemente, é sobre tablets. Mas na superfície lisa das telas, refletimos não apenas o rosto das crianças, mas a abdicação adulta. A matéria da BBC News Brasil questiona, com razoável equilíbrio, se o tempo de exposição às telas afeta o cérebro infantil — porém, o que ela revela sem dizer é talvez mais incômodo: estamos desesperadamente querendo delegar à ciência uma resposta que nos exima do olhar. É sempre mais fácil medir o tempo do que sustentar a presença. E é nesse gesto — entre a vigilância digital e o abandono elegante — que revelamos o verdadeiro problema: não é que as telas causem o vazio, elas apenas o ocupam. I. O sintoma que culpamos: moral de tela e ausência de elaboração A ciência é cautelosa. Est...

Proibir ou performar? O novo moralismo digital australiano

Proibir ou performar? O novo moralismo digital australiano Link original: https://share.google/vL1ImOBZ4iDJJXQ41 #maispertodaignorancia À primeira vista, a proposta australiana de banir adolescentes de redes sociais parece uma tentativa tardia de salvar um sujeito já em decomposição. Seria um gesto de cuidado, se não estivesse encharcado de controle. Seria uma política de proteção, se não soasse como mais uma performance de virtude neoliberal. Mas a história é outra. Segundo o projeto do governo de Victoria, jovens com menos de 16 anos só poderão acessar redes sociais mediante autorização parental comprovada por identificação digital. Parece razoável — afinal, quem não quer proteger “nossas crianças”? O problema é que essa retórica esconde um duplo movimento: o da terceirização da autoridade moral e o da intensificação do rastreamento identitário. Em nome da infância, instala-se mais um algoritmo de vigilância. Freud já nos alertava: onde há repressão, há retorno do recalca...

O monstro quer mudar de nome — e nós?

🩸 O monstro quer mudar de nome — e nós? Se a justiça esquece, quem lembrará? E se perdoamos, por que ainda trememos ao ver o rosto do esquecido? I. O perdão como deletar: a era dos arquivos morais Francisco de Assis Pereira quer mudar de nome. Como quem troca de CPF ou e-mail antigo. O “Maníaco do Parque”, que estuprou e matou mulheres em série no fim dos anos 1990, planeja sua “reinvenção” para 2028, quando poderá sair da prisão. Ele não deseja exatamente reabilitar-se — deseja, ao que tudo indica, desaparecer. Não se trata de um caso isolado de revisão penal. É um sintoma. E como todo sintoma, carrega mais do que quer confessar. No fundo, não é o criminoso que está mudando de nome. É o próprio pacto simbólico de memória que a sociedade atual parece querer editar, como se fosse um post com comentários desabilitados. A promessa de que “aquele Francisco não existe mais” se insere num imaginário contemporâneo moldado pela lógica da performance e da obsolescência. Andr...

Teatro Fiscal: Discurso, Tarifa e o Lucro da Ilusão

Teatro Fiscal: Discurso, Tarifa e o Lucro da Ilusão Fonte original: Integração crítica baseada em cinco ensaios anteriores e aprofundamento teórico com Marx, Zuboff, Han, Freud, Bauman, Levitsky e O’Neil. #maispertodaignorancia Introdução Não é apenas sobre porcentagens, mas sobre performance. A tarifa, tão frequentemente apresentada como proteção, revela-se um dispositivo de mascaramento econômico.  Este texto — resultado da integração crítica de cinco ensaios e sustentado por contribuições de autores como Marx, Han, Zuboff, Freud, Bauman, Levitsky e O’Neil — denuncia a encenação do discurso político e sua funcionalidade como máquina simbólica de extração e controle. Se outrora as guerras eram travadas por territórios, hoje são operadas por narrativas. A tarifa é só mais uma delas. 1. A Tarifa como Linguagem de Poder Em 2025, os EUA arrecadaram mais de US$ 124 bilhões com tarifas. A manipulação simbólica dessa cifra é brutal: o governo eleva tarifas para 50%, simula cr...

Entre Superegos e Algoritmos: Freud Não Te Seguiria de Volta

Entre Superegos e Algoritmos: Freud Não Te Seguiria de Volta Fonte do Link em questão Assista no Canal @maispertodaignorancia É curioso, para não dizer desesperador, que tenhamos conseguido converter a “Psicologia das Massas” de Freud em manual de boas práticas para linchamento digital. A matéria da Aventuras na História (2023) tenta nos vender uma reconciliação improvável: o cancelamento como fenômeno que Freud “explicaria” com entusiasmo, como se o velho doutor estivesse a favor do tribunal da hashtag.  Permita-me, com ironia devidamente fundamentada, discordar. A primeira confusão já começa no entendimento de massa. Para Freud (1921/2011), a massa não é só um ajuntamento de corpos, mas uma dissolução do Eu. O indivíduo, ao se fundir com o grupo, suspende sua autonomia crítica e se submete a uma identificação com o ideal.   No cancelamento digital, no entanto, não há ideal coletivo — apenas a projeção de ressentimentos individuais em figurações de moral. Cancelar...