Clínica Corporativa: O Novo Álibi do Capitalismo Afetuoso
Olá, bem-vindos ao Blog Mais Perto da Ignorância — onde o burnout virou protocolo e a empresa, confessionário.
Começo perguntando: quem cuida da saúde mental de quem lucra com o nosso adoecimento?
No artigo publicado pelo Migalhas, lê-se que investir em saúde mental virou pilar estratégico de empresas eficazes. A nova lógica é simples: um trabalhador sem colapso rende mais. Sublime, não? A depressão corporativa, antes encoberta pelo café e pelo crachá, agora ganha nome fantasia: “empresa humanizada”.
Mas vamos aos fatos. Ao declarar que o ambiente laboral precisa ser empático e acolhedor, o texto omite que o próprio modelo produtivo adoece. Trata-se de uma operação de fachada: mantém-se a lógica da pressão, mas agora com escuta ativa e sala de descompressão. A culpa pelo sofrimento? Sua. A solução? Também sua. Afinal, você precisa ser “autor da própria cura”, como manda o coaching travestido de RH.
Freud alertou que o mal-estar é estrutural à civilização. Byung-Chul Han diria que o excesso de positividade nos empurra para o autoengano terapêutico. Bauman já havia denunciado a fluidez das relações, inclusive laborais. E nós aqui, anestesiados, assistimos à transformação do sofrimento em KPI — com a performance emocional sendo avaliada na reunião de segunda.
A empresa “empática” não quer seu silêncio: ela quer sua dor convertida em narrativa engajada. Afinal, burnout com storytelling rende buzz. Já diria Pondé: “vivemos na era dos mimados” — e o RH agora oferece até colo, desde que você bata meta.
É claro: não se trata de negar a importância do cuidado, mas de recusar o sequestro do sofrimento pelas engrenagens do lucro. Tratar saúde mental no trabalho exige mais do que podcast corporativo com psicólogo influencer. Exige política, estrutura, limite — e talvez, quem sabe, uma greve.
Mas se você quiser mesmo se aprofundar nesse novo culto à sanidade performática, recomendo a leitura completa do artigo em: www.migalhas.com.br/depeso/434161/saude-mental-no-trabalho-como-pilar-da-empresa-humanizada-e-eficaz
Nota sobre o autor:
José Antônio Lucindo da Silva é psicólogo clínico (CRP 06/172551), pesquisador independente, autor do projeto “Mais perto da ignorância”, dedicado a analisar a cultura digital sob lentes psicanalíticas, niilistas e existencialistas. Criador do blog e pesquisador independente no blog “Mais Perto da Ignorância”.
#maispertodaignorancia
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