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A mostrar mensagens de julho, 2025

Entre Superegos e Algoritmos: Freud Não Te Seguiria de Volta

Entre Superegos e Algoritmos: Freud Não Te Seguiria de Volta Fonte do Link em questão Assista no Canal @maispertodaignorancia É curioso, para não dizer desesperador, que tenhamos conseguido converter a “Psicologia das Massas” de Freud em manual de boas práticas para linchamento digital. A matéria da Aventuras na História (2023) tenta nos vender uma reconciliação improvável: o cancelamento como fenômeno que Freud “explicaria” com entusiasmo, como se o velho doutor estivesse a favor do tribunal da hashtag.  Permita-me, com ironia devidamente fundamentada, discordar. A primeira confusão já começa no entendimento de massa. Para Freud (1921/2011), a massa não é só um ajuntamento de corpos, mas uma dissolução do Eu. O indivíduo, ao se fundir com o grupo, suspende sua autonomia crítica e se submete a uma identificação com o ideal.   No cancelamento digital, no entanto, não há ideal coletivo — apenas a projeção de ressentimentos individuais em figurações de moral. Cancelar...

Discursividade econômica e adoecimento social na crise brasileira

Discursividade econômica e adoecimento social na crise brasileira Em tempos de euforia contábil e discursos de "estabilidade", talvez seja hora de perguntar: o que adoece quando a economia melhora? Este ensaio articula dados concretos de informalidade, precarização, ansiedade e burnout com o discurso midiático da autonomia produtiva — revelando um Brasil que finge independência intelectual enquanto convulsiona por dentro. Atravessando Marx, Byung‑Chul Han e Dejours, o texto traça um mapa do sofrimento contemporâneo onde o corpo, o trabalho e a linguagem colapsam juntos. Não há solução no final. Apenas a dúvida bem colocada. 📎 Baixe o artigo completo aqui: https://drive.google.com/file/d/1ZNbRCVeigYD_T-xEf3Pk2BNxI9ZfUOYz/view?usp=drivesdk #maispertodaignorancia ✍️ Nota do autor José Antônio Lucindo da Silva é psicólogo clínico (CRP 06/172551), pesquisador independente e autor do projeto Mais Perto da Ignorância, dedicado a analisar a cultura digital, o trabalho e ...

Zuckerberg falou. O Brasil não ouviu.

Zuckerberg falou. O Brasil não ouviu. Fonte da Informação Podcast Mais Perto Da Ignorância Canal no YouTube @maispertodaignorancia Subtítulo: Quando a superinteligência encontra o subacesso: a utopia digital que não atravessa a BR-116. Mark Zuckerberg lançou uma carta ao futuro — ou, para ser mais preciso, a uma bolha de leitores plenamente conectados, bilíngues, tecnofílicos e capitalizados. Nela, o CEO da Meta anuncia que a superinteligência artificial está batendo à nossa porta, como um missionário iluminado que oferece progresso em bytes. Mas, em que porta, exatamente, ela está batendo? Vamos aos dados que Zuckerberg não cita: Indicador Valor Taxa de analfabetismo funcional (Brasil, 2023) 29% (população adulta) Taxa de analfabetismo digital (Brasil, 2023) 41% (população ≥ 15 anos) População sem acesso à internet 32 milhões de pessoas População co...

Em poucas linhas: comparo a nova “bolha IA” às pontocom, mapeio sete frentes de risco — do estouro financeiro ao esgotamento psíquico

Em poucas linhas: comparo a nova “bolha IA” às pontocom, mapeio sete frentes de risco — do estouro financeiro ao esgotamento psíquico  1 | Introdução Falo na primeira pessoa: em 1999, vendiam “sites que mudariam o mundo”. Hoje, vendem chips que “põem a própria mente em segundo plano”. A euforia parece igual, mas o jogo ficou mais caro: agora, especulamos com energia, água e saúde mental. (SEEKING ALPHA, 2025) 2 | Sete parâmetros para entender o hype 2.1 Economia política Os dez maiores nomes do S&P 500 já controlam mais de 37 % do índice — patamar próximo ao pico da bolha dot-com (REUTERS, 2025) . A volatilidade geopolítica — tarifas, corrida por semicondutores — pode furar esse balão num estalo. (BARRON’S, 2025) 2.2 Energia e água Estudo da Universidade de Michigan mostra que até 30 % da energia usada para treinar LLMs vira calor desperdiçado (CHUNG et al., 2024) .  E não é só eletricidade: Google, Microsoft e Meta gastaram cerca de 580 bilhões de litr...

Sedentarismo cognitivo: o novo sedentarismo que começa na mente

Sedentarismo cognitivo: o novo sedentarismo que começa na mente Quando o cérebro entra em “modo economia de energia” diante de telas infinitas e respostas prontas A ideia de que “quem não se mexe atrofia” ultrapassou os limites da musculatura e chegou ao córtex. Reportagem do portal Minha Vida cunhou o termo sedentarismo cognitivo para descrever a dependência de soluções automáticas — sejam feeds infinitos ou prompts de IA — que poupam o esforço de pensar criticamente. Na prática, entramos numa academia onde o cérebro nunca levanta peso algum. A ciência por trás da metáfora Pesquisas recentes reforçam que preguiça mental cobra pedágio neural. Um estudo japonês com 7.097 crianças mostrou que expô-las a quatro horas ou mais de tela aos 12 meses quase quintuplica o risco de atrasos de linguagem e resolução de problemas aos quatro anos. Em adultos, o problema muda de endereço: ressonâncias magnéticas com idosos saudáveis registraram que hipocampos menores perdem volum...

Proibir ou punir? Quando a proteção veste a toga do controle

Proibir ou punir? Quando a proteção veste a toga do controle Fonte da Informação Austrália quer banir menores de 16 anos das redes sociais, mas decisão pode revelar mais sobre os adultos do que sobre os jovens. O medo é deles — ou nosso? O governo australiano propôs, nesta semana, o banimento de adolescentes com menos de 16 anos de plataformas como TikTok, Instagram e YouTube. A justificativa: proteger a saúde mental infantojuvenil. Mas será que o silêncio imposto é mesmo cuidado — ou apenas mais um recalque disfarçado de zelo público? 🔹 O fetiche da segurança digital A proposta surge em meio ao aumento de diagnósticos de ansiedade e depressão entre jovens. Porém, como lembra Zygmunt Bauman, em *O mal-estar da pós-modernidade*, a sociedade contemporânea busca segurança não para enfrentar o risco, mas para evitá-lo a qualquer custo. A liberdade é vigiada, higienizada, proibida de falhar — sob pena de ser culpabilizada por sofrer. 🔹 Recalque legislativo, ang...

Entre o Déficit e o Espelho: narcisismo de morte, populismo fiscal e o impasse psicossocial da economia brasileira

Entre o Déficit e o Espelho: narcisismo de morte, populismo fiscal e o impasse psicossocial da economia brasileira Resumo Nas últimas décadas, o Estado brasileiro convive com déficits orçamentários crônicos e uma dívida pública em trajetória ascendente. Paradoxalmente, governos de matizes distintos mantêm – ou ampliam – renúncias fiscais, subsídios regressivos e pacotes de benefícios de curto prazo que agravam a fragilidade estrutural. Este ensaio interpreta esse aparente “apetite pelo fracasso” à luz do conceito de narcisismo de morte (Green), articulado a categorias de Bauman (modernidade líquida) e à economia política do populismo fiscal. Argumenta-se que tal lógica autodestrutiva opera como resposta psíquica coletiva à tensão entre desigualdade persistente e promessa democrática de bem-estar; ao espetacularizar a crise, produz-se capital simbólico e eleitoral, ainda que à custa da solvência do futuro. 1. Introdução Desde 2014, o setor público consolidado do Brasil fe...

Entre o déficit e o espelho

Entre o déficit e o espelho Narcisismo de morte, populismo fiscal e meu impasse psicossocial diante da economia brasileira Eu começo lembrando o número que não sai da minha cabeça: setenta e sete por cento de PIB. Esse é o tamanho da dívida bruta brasileira, segundo o último relatório oficial¹. Repito mentalmente, quase como um mantra amargo, porque ele resume nosso paradoxo nacional: aprendi, como qualquer estudante de finanças públicas, que um Estado endividado deveria conter renúncias fiscais e apertar despesa. No entanto, caminho pelas manchetes e vejo governos sucessivos — de tons ideológicos diversos — abrirem mão de mais de um trilhão de reais em isenções nos últimos doze anos².   Não é simples contradição técnica; trato como sintoma psíquico. Sinto que, em nosso debate cotidiano, quanto mais buraco, melhor a foto. Quanto maior o “rombo recorde”, mais likes rendem os discursos redentores que pipocam nas redes. Quando leio André Green³ explicando o narci...

Conclusão – swipe, déficit e a arte de chamar ruído de esperança

Conclusão – swipe, déficit e a arte de chamar ruído de esperança Podcast 📦Bloco 2 — ⚖️ Bloco 2 — STF derruba o Art. 19 e empurra a censura para o ADM. “O analfabetismo digital é a fé cega no algoritmo” (POST, 05 jul 2025) e “Entre o discurso líquido e a matéria escassa” (POST, 02 jul 2025) compõem, juntos, o epitáfio da geração 25-35: conectividade máxima, compreensão mínima, conta máxima. A primeira crônica mostra 58 % dos brasileiros incapazes de identificar deepfake – mas prontos a jurar que IA “não erra”. A segunda lembra que energia, comida e Previdência custam caro justamente quando nossos dados são doados de graça, lubrificando a engrenagem de vigilância que monetiza cada toque. Este artigo percorreu três fraturas: 1. Tarifa trumpista – representaria perda anual de ~US$ 5,8 bi, mas ganhou quinze minutos de glória no telejornal. 2. Derrubada do art. 19 – enterrará o porto-seguro jurídico das plataformas, custando R$ 777 mi em novas ações e empurrando a mode...

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede Podcast Bloco 1 — Trump rosna, o preço do frete apodrece a laranja. Resumo: Escrevo do limbo entre três pancadas sincrônicas: (a) o tarifaço de 50 % que Donald Trump promete despejar sobre café, laranja e E-Jets; (b) a maioria do STF ansiosa para enterrar o art. 19 e terceirizar a censura ao algoritmo; (c) o rombo previdenciário projetado em R$ 328 bi para 2025, sete tarifas trumpistas por ano — sem falar nos R$ 6,3 bi em fraudes por descontos fantasmas no INSS. Chamam tudo isso de “proteção”. Proteção de quem? A conta não fecha: renúncia fiscal de R$ 3,2 bi/ano, gasto judicial extra de R$ 777 mi (2025-29) e 60 % dos brasileiros presos ao 4 G pré‑pago. Entre Freud, Marx, Bauman, Han, Zuboff e O’Neil, argumento que o moralismo digital e o marketing tarifário escondem um Estado que transfere renda ao capital de vigilância e deixa jovens adultos sem b...

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede Podcast Bloco 3 — O déficit explode e a juventude parcela o futuro. Resumo Escrevo do limbo entre duas pancadas: um tarifaço de 50 % que Donald Trump jura aplicar ao café que você ainda não pagou e a maioria do STF que promete destruir o Art. 19 do Marco Civil – aquele fiapo jurídico que impede o moderador amaldiçoado de remover seu meme sem ordem judicial. Chamam ambos de proteção. Proteção de quem? A conta não fecha: renúncia fiscal prevista de R$ 3,2 bi/ano, custo judicial extra de R$ 777 mi (2025‑29) e 60 % da população que só conhece a internet pelo 4 G do plano pré‑pago. Entre Freud, Marx, Bauman, Han, Zuboff e O’Neil, mostro que a retórica salvacionista gera lucro para algorítmicos e bode expiatório para jovens adultos famintos de banda e futuro. Palavras‑chave: Art. 19; tarifa; vigilância algorítmica; juventude conecta...

Flexível: Liberdade ou Autoexploração?

 A Geração do Cansaço Flexível: Liberdade ou Autoexploração? (https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2025/07/7211952-geracao-z-desafia-modelo-tradicional-de-direitos-trabalhistas.html) Há algo de profundamente irônico na rebeldia trabalhista da Geração Z. Enquanto desafia o modelo tradicional da CLT, ela não reivindica menos trabalho — ela quer mais propósito, mais flexibilidade, mais reconhecimento. Mas o que parece ser uma revolução libertadora pode, na verdade, ser um aprofundamento da prisão. Só que agora com luzes de LED, café gourmet e wi-fi rápido. Segundo o artigo publicado pelo Correio Braziliense, essa geração não quer seguir as regras da velha ordem trabalhista. Prefere ser PJ, nômade digital, freelancer — mas o que está em jogo não é apenas a forma contratual, é uma recusa em ser comandado. Só que, como alerta Byung-Chul Han em Sociedade do Cansaço, o sujeito contemporâneo não é mais coagido por um patrão externo: ele mesmo se explora, acreditando que é livre ju...

O Silêncio das Redes: O Novo Recalque no Espetáculo do Desempenho

  O Silêncio das Redes: O Novo Recalque no Espetáculo do Desempenho Podcast Mais Perto da Ignorância Assista a playlist do Canal no YouTube @maispertodaignorancia (https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51e5qq3yygo) Ao que tudo indica, chegamos ao momento em que o silêncio se tornou mais eloquente do que qualquer postagem. A recente matéria da BBC Brasil intitulada “Por que tantas pessoas deixaram de fazer postagens” se propõe a analisar o fenômeno da diminuição da atividade nas redes sociais, principalmente entre os jovens. Contudo, há uma lacuna gritante em sua abordagem: a ausência de uma crítica mais profunda sobre o caráter performático e vigilante desses ambientes. Desde o início da era da discursividade digital, ficou evidente que as redes não seriam apenas espaços de expressão pessoal, mas também arenas de exposição pública e controle social. O setor de Recursos Humanos, por exemplo, há anos utiliza esses ambientes como ferramentas de triagem comportamental. O que se post...

Oversharenting: quando a infância vira clickbait e o algoritmo embala a chupeta

Oversharenting: quando a infância vira clickbait e o algoritmo embala a chupeta (BBC News, 2025 – “Parents criticised for monetising their children on social media”) Resumo inicial – Neste artigo, percorro (em primeira pessoa, com pitadas de sarcasmo acadêmico) as vielas jurídicas, psicológicas e mercadológicas que transformam a vida doméstica em reality-show lucrativo. Costuro evidências empíricas — de base PubMed a relatórios legislativos — para mostrar como o oversharenting (a superexposição rentável da infância) compromete privacidade, saúde mental e direitos trabalhistas de quem ainda não sabe escrever “logout”. 1 | Do álbum de família ao feed patrocinado Era uma vez o “sharenting”, união de sharing + parenting; em 2025, adicionou-se o prefixo “over-” e nasceu o oversharenting, a arte de compartilhar demais e lucrar mais ainda. Estudos com influenciadoras britânicas revelam mais de 5 000 posts infantis analisados: 86 % exibiam o rosto da criança sem consentimento formal. Pesquisa ...

Insônia, Ruminação e o Caracol que Nunca Dorme

  Insônia, Ruminação e o Caracol que Nunca Dorme #maispertodaignorancia (https://share.google/xE8BXwQqdOteLZLf8) Corpos exaustos se deitam, mas a mente corre escada acima como o caracol de Ramón Gómez de la Serna. A tela preta do quarto se acende por dentro: dívidas, e-mails, filhos, a notificação invisível que vibra na palma – tudo reaparece no cinema das 3h da manhã. O psiquiatra Lucas Raspall lembra que o cérebro não foi programado para nossa felicidade, e sim para a sobrevivência: após cada conquista ele caça o próximo perigo, gerando o ruído que chamamos de ruminação. A tal “rede padrão” ativa-se quando a tarefa acaba e a consciência, em vez de descansar, torna-se engenheira de catástrofes. Absurdamente, somos vítimas do nosso próprio mecanismo de autoproteção. A solução não virá na forma de mais um aplicativo de meditação vendido como doping de serenidade. Raspall aponta três verbos quase subversivos na era do scroll infinito: observar, escolher, administrar. Observar o funci...