Plataformas Educacionais e o Fetiche da Solução: O fracasso programado da performance digital
Plataformas Educacionais e o Fetiche da Solução: O fracasso programado da performance digital
RESUMO
Este ensaio analisa criticamente os resultados ineficazes das plataformas educacionais implementadas na rede pública paulista à luz de autores como Freud, Bauman, André Green, Byung-Chul Han e Pondé. A partir do fracasso revelado por estudo recente divulgado pela Folha de S.Paulo, propomos que a tecnologia, quando usada como simulacro de solução, reforça o mal-estar civilizatório ao mascarar a ausência de vínculos, a dissolução do desejo e a burocratização da educação. O texto é escrito em primeira pessoa, no tom crítico, irônico e niilista que caracteriza o projeto Mais Perto da Ignorância.
Palavras-chave: plataformas digitais, educação, mal-estar, simulação, niilismo educacional.
1. O Mal-Estar Digital
Li na Folha que o investimento milionário em plataformas digitais na educação pública de São Paulo não melhorou os resultados. Nenhuma surpresa. Freud já havia diagnosticado que a civilização demanda sacrifício pulsional, e que toda promessa de prazer imediato é, na verdade, um convite à neurose. Aqui, o sintoma se chama tecnologia: aplicativos, dashboards, e-learning. A realidade concreta da sala de aula — com goteiras, fome, violência e abandono — foi maquiada por uma interface.
2. Narcisismo Gerencial: Morte Encoberta por KPI
A lógica das plataformas educacionais opera no registro do narcisismo de morte, como diria André Green. Não se deseja ensinar — deseja-se ser visto ensinando. Um gestor não quer alunos aprendendo; quer gráficos em alta para o próximo PowerPoint. O aluno, figura ausente, é substituído pelo “usuário da plataforma”. O vínculo desaparece. E onde não há vínculo, não há Eros.
3. A Pedagogia do Ressentimento
Luiz Felipe Pondé diagnosticou: vivemos numa era de ressentidos. O fracasso da escola não é enfrentado; é terceirizado para a esperança tecnológica. Como uma criança mimada, o sistema educacional exige resultados sem disposição para mudança estrutural. Quando os dados falham, o erro é do aluno, do professor, do sindicato — nunca do fetiche da solução digital. Chamamos de inovação o que é apenas desespero com estética UX.
4. Indiferença Algorítmica: Educação como Estatística
Bauman, em Modernidade e Holocausto, mostrou como a racionalidade técnica dissolveu a responsabilidade moral. Aplicada à educação, essa lógica permite que ninguém seja culpado: a plataforma falhou, mas foi "tentado". O fracasso virou metadado. A pedagogia tornou-se adiaforética — ética neutra, distância moral, estatísticas sem carne.
5. O Simulacro do Ensino: Aprender a Simular Aprendizado
Byung-Chul Han já nos alertava que o excesso de positividade, performance e conectividade cria sujeitos exaustos. O estudante contemporâneo aprende a simular engajamento, a navegar por interfaces, a entregar redações para a máquina corrigir — mas não a pensar. O ensino virou entretenimento com rubrica burocrática. A alfabetização crítica foi substituída por uma gamificação da mediocridade.
(In)Conclusão
Chamam de educação o que é apenas manutenção do delírio institucional. A plataforma não ensina, apenas consola. E se a promessa digital virou analgésico, talvez a dor que tentamos calar seja justamente a de perceber que…
#maispertodaignorancia
REFERÊNCIAS:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
GREEN, André. Narcisismo de Vida, Narcisismo de Morte. Rio de Janeiro: Imago, 1988.
HAN, Byung-Chul. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.
PONDÉ, Luiz Felipe. A era do ressentimento: uma agenda para o contemporâneo. São Paulo: Leya, 2014.
Autor:
José Antônio Lucindo da Silva, CRP 06/172551. Psicólogo clínico, pesquisador independente no Blog “Mais Perto da Ignorância”.
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04 de Julho de 2025
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