Desaprendendo a Escrever: quando a caligrafia morre, o pensamento pede socorro
Por José Antônio Lucindo da Silva – #maispertodaignorancis
Data: 21 de junho de 2025
Num mundo onde tudo precisa ser instantâneo — da comida ao afeto —, surpreende alguém ainda se importar com algo tão jurássico quanto a escrita cursiva. E, no entanto, é justamente isso que está morrendo diante dos nossos olhos pixelados: a capacidade de elaborar uma ideia... com as próprias mãos.
Segundo matéria publicada pela Gazeta de São Paulo, cerca de 40% dos jovens já não dominam mais a escrita manual. Aquela mesma que exige tempo, coordenação, esforço e uma pitada de paciência — virtudes em extinção. E aqui não falamos só de estética ou nostalgia: falamos da morte simbólica de um tipo de pensamento que precisa passar pelo corpo antes de virar discurso.
Mas o que isso tem a ver com o discurso interpessoal? Tudo.
Sem o treino de elaborar frases completas no papel, como sustentar conversas densas no mundo real? Como ordenar ideias, respeitar pausas, pensar antes de responder? A verdade é que o digital ensinou a pular etapas — e o resultado está aí: jovens que trocam ideias como se fossem stories de Instagram, com prazo de validade de 24 horas e profundidade de um meme.
A escrita, ao que parece, não está apenas fora de moda. Ela foi substituída por dedos velozes que arrastam para cima, mas não sustentam uma linha de raciocínio sequer.
E talvez estejamos diante de algo mais grave: não é apenas a caligrafia que está sumindo. É a possibilidade de elaborar o próprio pensamento, de construir um discurso que sobreviva ao feed, que suporte o silêncio de uma conversa sem emoji.
No fim das contas, podemos estar educando uma geração inteira para a performance, não para o diálogo. Para a reatividade, não para a reflexão. Para a estética, não para o conteúdo. A ironia é que tudo isso se dá em nome da "conectividade", enquanto nos tornamos cada vez mais incapazes de nos escrever uns nos outros.
Afinal, se nem escrever conseguimos mais… como vamos existir?
> Para mergulhar mais fundo nessa discussão, leia a matéria que inspirou essa reflexão:
https://www.gazetasp.com.br/gazeta-mais/estilo-de-vida/saiba-por-que-os-jovens-perdem-uma-habilidade-que-existe-ha-5500-anos/1157702/
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